Com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) se firma como um candidato forte para suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados. O parlamentar paraibano se encontrou na manhã desta quarta-feira (04) com o ex-presidente Bolsonaro, e de acordo com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), não houve objeções por parte do ex-presidente em relação a um possível apoio a Motta.
“Eles se encontraram para se conhecer, o presidente (Bolsonaro) não viu nenhum problema, mas a definição do apoio à candidatura vai depender se ele vai ser o candidato do (Arthur) Lira e de uma conversa com os parlamentares do partido”, declarou Flávio Bolsonaro.
Com a desistência do presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), conhecido por sua proximidade com o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal, Pereira deixou a disputa na noite de terça-feira (03) e declarou apoio a Motta. O deputado paraibano agora conta com o respaldo de parlamentares ligados ao governo e também de representantes do bolsonarismo.
O movimento de Pereira também é interpretado como uma resposta a Gilberto Kassab (PSD), a quem Pereira atribuiu a inviabilização de sua candidatura. Pereira tentou negociar o apoio de Kassab por meio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e até mesmo de Jorge Bornhausen, veterano da política e mentor de Kassab.
A rivalidade entre aliados resultou em uma reunião de emergência convocada por Lula, fora da agenda, com Kassab, na terça-feira (03). Durante o encontro, Kassab reafirmou que o PSD manterá o deputado Antonio Brito (PSD-BA) como candidato à presidência da Câmara. A postura de Kassab complicou os planos do governo e de Arthur Lira, que tentavam construir uma sucessão de forma consensual.
Embora Brito fosse um dos favoritos do Planalto, sua candidatura não ganhou força suficiente e ele não deve ter o apoio nem de Lira, nem da oposição, que considera Brito muito dependente de Kassab.
Com o apoio de Lula e a sinalização positiva de Bolsonaro para Hugo Motta, Antonio Brito, já visto como azarão, pode sofrer uma das raras derrotas de Kassab, conhecido por sua habilidade política. Além disso, Kassab enfrenta pressões em São Paulo, onde é secretário de governo de Tarcísio de Freitas, e é criticado por bolsonaristas devido à sua relação com o governo Lula.
A movimentação de Marcos Pereira também abalou o favoritismo de Elmar Nascimento (União-BA), que era considerado o nome forte para a sucessão de Arthur Lira. Apesar de Elmar ter o apoio de Lira, sua proximidade com o PT baiano e a desconfiança de colegas sobre sua capacidade de articular interesses parlamentares enfraqueceram sua candidatura.
Mesmo contando com o compromisso de Lira, Hugo Motta mantém uma boa relação com o atual presidente da Câmara, o que o torna uma opção mais palatável para Lula, que busca evitar atritos com opositores do PT na Bahia e preservar laços com o partido de Edir Macedo. Além disso, Motta conta com o apoio de Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do partido de Lira.
A escolha de Hugo Motta também beneficia o governador Tarcísio de Freitas, que poderá contar com um aliado no comando da Câmara dos Deputados.
Até pouco tempo, as especulações sobre a sucessão na Câmara giravam em torno de dois nomes baianos: Elmar Nascimento e Antonio Brito. A grande festa de aniversário de Elmar, em julho, que reuniu mais de 300 deputados, 11 ministros, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin, e até parlamentares da oposição e do PL de Bolsonaro, parecia consolidar sua força. No entanto, com o novo cenário, Elmar pode se aproximar de Bolsonaro e adotar uma postura mais combativa em relação ao PT baiano nas próximas eleições.