O Brasil é o país com a maior desvalorização do dólar em 2022, segundo a empresa de informações financeiras Economatica. A moeda norte-americana fechou a quarta-feira (9) cotada a R$ 5,22 e acumula queda de 6,2% no ano.
Na sequência do Brasil, os países em que o dólar mais se desvalorizou foram:
- África do Sul: – 4,55%
- Peru: – 3,40 %
- Chile: – 3,05%
- Colômbia: – 1,49%
- Dinamarca: – 0,85%
- Canadá: – 0,62%
- União Europeia: – 0,33%
Segundo economistas, dois fatores principais explicam esse movimento do dólar ante o real: o novo boom de commodities, matérias-primas das quais o Brasil é um grande exportador; e a forte alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, que chegou a 10,75% na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).
Boom de commodities
Nos últimos 12 meses, commodities como petróleo (75,8%), milho (57,5%), soja (39,1%) e minério de ferro (38,7%) acumularam forte alta nos mercados internacionais.
Os preços estão sendo puxados pela maior demanda global, em meio à retomada econômica pós-pandemia.
O aumento das exportações faz com que mais dólares entrem no Brasil, reduzindo a cotação da moeda americana.
Esse cenário também contribui para o ingresso de capital estrangeiro na bolsa brasileira, que tem um terço das suas ações ligadas ao setor de commodities.
No mês de janeiro, esse fluxo somou R$ 32,5 bilhões, segundo a B3 (Bolsa de Valores), mais do que o dobro do valor observado em dezembro de 2021 (R$ 14,5 bilhões).
Taxa de juros
Já a alta da Selic vem atraindo estrangeiros para os investimentos em renda fixa. Depois da última decisão do Copom, o Brasil voltou a ter o maior juro real (descontada a inflação) do mundo. E o Banco Central já sinalizou pelo menos mais uma alta da taxa, na próxima reunião, em março.
A Selic em alta eleva os juros pagos em investimentos de renda fixa, o que aumenta a procura externa por esses papéis. Com isso, entram mais dólares no país.
Sobe e desce ao longo do ano
Especialista da área alertam, porém, que o câmbio será marcado por muita volatilidade em 2022 – em meio às incertezas fiscais e eleitorais.
“O preço da commodities deve continuar num patamar adequado. E lembrando que o Brasil é um dos poucos países que têm um nível de reservas bastante adequado. Então juro em alta, commodities em alta e reservas no patamar certo: não tem por que não vermos o real se apreciar ao longo deste ano”, explicou André Perfeito, economista chefe da Necton Investimento.
“Obviamente esse processo de apreciação do real não vai ser sem tumulto, sem trovoadas. A gente vai ter um processo eleitoral presidencial bastante pesado ao longo de 2022. Ainda vai ter muita água para rolar embaixo da ponte”, completou.
Para Rachel Sá, economista-chefe da consultoria Rico, o real vai oscilar o ano inteiro, principalmente em razão das incertezas fiscais no país, e deve fechar o ano acima de R$ 5,50.
“Todas essas incertezas politicas e principalmente fiscais acabam sendo precificadas no real. A nossa expectativa é que, apesar dessa apreciação deste começo do ano, ao longo do ano essa incerteza voltará a falar mais alto e criará bastante volatilidade e o dólar voltará a ficar mais perto de R$ 5,50 para cima do que de R$ 5,50 para baixo”, opinou.