Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, declarou nesta quinta-feira (27) em São Paulo que a instituição não prevê uma elevação dos juros em seu cenário atual. Durante uma coletiva para discutir o Relatório Trimestral de Inflação, Campos Neto assegurou que o BC está monitorando de perto o cenário econômico e mantém uma postura vigilante.
“A alta de juros não está no nosso cenário base. Acreditamos que a comunicação adotada é apropriada, sem oferecer orientação futura. Seguimos atentos e vigilantes,” afirmou.
Campos Neto também comentou sobre o decreto do governo, recentemente publicado, que institui uma meta contínua de inflação. Essa nova abordagem estabelece uma meta permanente, que só poderá ser alterada com uma antecedência de três anos.
Ele afirmou que essa mudança não alterará a visão do Banco Central sobre a política monetária.
“[O decreto] não muda nossa perspectiva sobre a política monetária. Não implica em maior ou menor suavização. É uma evolução que já vinha sendo discutida internamente desde que assumi o cargo. Entendemos que o ano fiscal não era a melhor maneira de medir os resultados atingidos.”
Para Campos Neto, o período de 36 meses para mudanças na meta reflete o compromisso do governo com a transparência.
“Esse prazo demonstra o compromisso do governo com a transparência, oferecendo estabilidade nas previsões e permitindo que os agentes financeiros se planejem melhor, aumentando a previsibilidade do sistema.”
Políticas
Durante a entrevista, Campos Neto negou ter sido convidado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para ocupar um cargo público caso ele seja eleito presidente.
“Não tive nenhuma conversa com Tarcísio sobre ser ministro de nada. Não tenho intenção de me candidatar a nenhum cargo, nem de me tornar político,” afirmou.
Ele explicou que é amigo de Tarcísio e que participou de eventos com outras autoridades políticas, mas destacou que, quando participa desses eventos, está representando o Banco Central.
“Minha presença nesses eventos é em nome do Banco Central. Acredito que é importante comparecer, e há um histórico de presidentes de Bancos Centrais, tanto do Brasil quanto de outros países, participarem de homenagens.”
Sobre as críticas recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua atuação no Banco Central, Campos Neto optou por não entrar em detalhes.
“Não cabe a mim, como presidente do Banco Central, participar de debates políticos. Continuaremos a demonstrar que nossas decisões são baseadas em critérios técnicos.” Ele observou, entretanto, que alguns desses pronunciamentos podem ter um impacto negativo no mercado. “O que vimos recentemente é que determinados pronunciamentos coincidem com pioras em algumas variáveis macroeconômicas e nos preços de mercado,” concluiu.