Personagem controverso da campanha eleitoral,o ex-juiz Sergio Moro procura escolher, em meio a ataques dos adversários, a equipe que o ajudará na corrida ao Palácio do Planalto. Conhecido pelo estilo reservado, o pré-candidato do Podemos tem se cercado de pessoas próximas ou com visibilidade discreta no meio político.
A ideia, segundo aliados de Moro, é formar uma campanha que consiga falar com todas as camadas da população, frisando o viés conservador do postulante ao Planalto. Pesa, ainda, na construção da candidatura, a estratégia para tornar o ex-juiz uma pessoa mais acessível. E, não menos importante, que consiga dialogar com a classe política, uma das mais atingidas nos tempos tempos que o ex-magistrado julgava as ações anticorrupção da Operação Lava-Jato.
Moro escolheu para a coordenação geral executiva Luis Felipe Cunha, amigo da época da advocacia. Assim como o ex-juiz, Cunha é professor de direito e estreante na política. Tem um escritório de médio porte na capital paranaense, onde atua em causas relacionadas à defesa do consumidor e consultivo.
“Sei que não é uma missão nada fácil e encaro com muita dedicação e responsabilidade. Estamos falando de um projeto grandioso para mudar o país e trazer esperança de dias melhores ao povo brasileiro. Não podemos e não iremos errar”, frisou Cunha ao Correio.
Cabe a Luis Felipe escolher outros membros do núcleo da campanha. Um dos primeiros movimentos foi escalar o marqueteiro de Moro: o argentino Pablo Nobel. O publicitário presta serviços à M4, mesma agência responsável pela campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018. Nobel também integrou a OpenFilms, que produziu filmes para os governos petistas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, entre 2003 e 2014.
Diálogo amplo
A formação do comitê de campanha ocorre paralelamente às andanças de Moro pelo país em busca de votos. O diálogo com o eleitorado feminino, por exemplo, tem como uma das colaboradoras-chave a presidente do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP).
No sábado, Moro esteve no Primeiro Fórum da Associação Feminina de Combate à Corrupção, sob o tema “Um Brasil mais justo para as mulheres”, em São Paulo. O pré-candidato ouviu questionamentos sobre políticas públicas para as mulheres e soluções sobre o feminicídio. Prometeu dar atenção especial a essas questões.
Membro do movimento Curitiba Contra Corrupção e uma das fundadoras do Acampamento Lava-Jato, Nerli Resende afirmou que Moro pareceu muito à vontade. “Ele foi descontraído, fez brincadeiras e comentou algumas questões que estão sendo conduzidas no programa de governo dele, inclusive para as mulheres chefes de família”, comentou ao Correio.
O ex-juiz também está atento a outras parcelas do eleitorado, como os evangélicos. “Dos pré-presidenciáveis, Moro foi o único que escalou um coordenador para núcleo evangélico da campanha, porque ele vê a importância do segmento. Não só por votos, mas importância para o crescimento do país”, afirmou Uziel Santana ao Correio.
Ex-presidente da Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure), o coordenador pretende conversar com os principais segmentos evangélicos — históricos, pentecostais e neopentecostais – este último o mais dividido entre Moro e o presidente Jair Bolsonaro (PL). “Vamos trabalhar com todos”, garantiu Uziel.
Entre as conversas mais importantes, o colaborador relata o encontro entre Moro e o pastor RR Soares. Menciona, ainda,uma futura reunião com o dono da Igreja Universal, bispo Edir Macedo – apoiador fiel de Bolsonaro.
Na articulação política, fazem parte do círculo de Sergio Moro colegas de partido e aliados de longa data. Os senadores Álvaro Dias e Oriovisto Guimarães integram o Conselho Político do ex-juiz. O ex-coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol também é próximo.
O ex-procurador, no entanto, tem focado na campanha para deputado federal. Segundo aliados, ele está empenhado no esforço de construir um movimento apartidário para eleger 200 deputados “comprometidos com o combate à corrupção, compromisso com a democracia e preparação política”.
Discurso econômico
Apesar do trabalho feito até aqui, a campanha de Moro enfrenta dificuldades. Uma das críticas mais frequentes é a fragilidade do discurso do candidato em relação a temas econômicos.
No início da pré-campanha, o ex-juiz ganhou visibilidade ao anunciar que estava se aconselhando com o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore – antagônico ao ministro da Economia Paulo Guedes. Contudo, o discurso do presidenciável não tem convencido o mercado financeiro.
Na semana passada, em evento promovido pelo Grupo Voto, em São Paulo, a presidente do Podemos, Renata Abreu, foi indagada sobre o “algo a mais” de Moro, pois a agenda anticorrupção não seria suficiente para conquistar o eleitor.
Analistas ouvidos pelo Correio avaliam os pontos fortes e as fragilidades da campanha de Sergio Moro. Do ponto de vista econômico, “a candidatura do Moro considera fundamental manter equilíbrio macroeconômico com inclusão social responsável, além do combate à corrupção. Sergio Moro está querendo montar uma equipe, ao invés de concentrar só em uma pessoa”, avalia Carlos Pereira, pesquisador e professor da FGV EBAPE.
Paulo Loiola, mestre em políticas públicas e analista da consultoria política Baselab, vê pouco chances de diálogo com os progressistas. Para ele, o ex-juiz não representa a terceira via, mas sim a segunda via do bolsonarismo. “A grande chance dele é surfar nas mesmas pautas que elegeram Bolsonaro em 2018, a aproximação com MBL. A estratégia é conquistar um certo público de opinião liberal que pode vir a trazer uma militância que ainda não existe”, destaca.