A escassez global de semicondutores, que já paralisou a indústria automobilística, aterrissou na indústria de cartões do Brasil, que movimenta cerca de R$ 2 trilhões ao ano e abrange bancos, fintechs e varejistas. A falta do insumo praticamente zerou o estoque de chips das emissoras de cartões, que costumava ser suficiente para abastecer a demanda para a emissão de novos plásticos por três meses.
Agora, clientes dessas instituições chegam a esperar até um mês pela chegada de um cartão, gerando, por vezes, problemas em pagamentos que já estão cadastrados no plástico antigo ou retardando consumo.
Para a indústria, não está claro ainda qual deve ser o impacto financeiro. O que se sabe é que o problema deve persistir por alguns anos, e algumas instituições têm utilizado estratégias de escalonamento de entregas e seleção de clientes para contornar o problema.
No entanto, essa não é uma regra nessa indústria que atravessa um momento de grande competição, com a entrada de fintechs e varejistas, que, por sua vez, têm se esforçado para ampliar sua base de clientes, tendo o cartão como porta de entrada.
A Porto Seguro informa que, “devido à falta de matéria-prima no mercado, a emissão de cartões está sujeita a atrasos”. Em nota, a companhia diz estar trabalhando com seus fornecedores para que a situação “seja normalizada o quanto antes”.
Também procurado, o Bradesco esclareceu que, “em setembro, devido à falta de chips no mercado, o banco registrou alguns atrasos na entrega de cartões aos seus clientes. Porém, a situação hoje está totalmente normalizada, e todos os cartões – de débito e crédito – estão sendo entregues dentro dos prazos previstos”.
O problema chega também às maquininhas que, igualmente, utilizam chips. A previsão de especialistas é de que a crise pode levar até dois anos. “Todos os emissores que precisam cartões com chip estão com problema, assim como os credenciadores, que precisam de maquininhas para aceitar o cartão e que não estão disponíveis por falta de chip”, comentou o executivo à frente de uma empresa do setor que não quis se identificar.
O Itaú Unibanco afirma que falta de chips não foi sentida pela instituição e que sua emissão de cartões transcorre normalmente. Santander e Banco do Brasil não comentaram, e a Caixa não respondeu até a conclusão desta edição.
Números da Abecs, associação que representa as operadoras de cartão de crédito, mostram que o potencial de dano dos é grande. Os plásticos físicos responderam por cerca de 80% dos R$ 2 trilhões de transações realizadas com cartões de débito e crédito e nas operações com cartões pré-pagos, segundo o balanço anual da associação. As compras por aproximação ainda são mínimas, de cerca de R$ 41 bilhões.
O assunto é tratado com sigilo pelo setor, segundo fontes da indústria. Ao Estadão, a associação negou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o assunto tenha entrado na pauta da entidade.