O Brasil vai trabalhar duro para que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia saia ainda este ano, depois de duas décadas de negociação, mas desde que os dois lados ganhem. Mais do que isso, é preciso respeito de todas as partes. O recado foi dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Bruxelas, durante a abertura da reunião de cúpula entre a União Europeia e a Comissão dos Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac).
“Queremos assegurar uma relação comercial justa, sustentável e inclusiva. A conclusão do acordo Mercosul-União Europeia é uma prioridade e deve estar baseada na confiança mútua, e não em ameaças”, cobrou.
O discurso de Lula reflete o descontentamento dos sócios do Mercosul com um recente posicionamento da UE. Por meio de um documento enviado ao bloco sul-americano, os europeus impuseram uma série de punições em caso de desmatamento. Para ele, não se pode ameaçar parceiros.
Na tentativa de aparar as arestas, a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, disse que é possível superar todos os entraves para que o tratado comercial seja assinado até o fim do ano. Ela manifestou otimismo de que, como pretende Lula, a parceria se concretize nos próximos meses. Tanto que prevê benefícios para as duas regiões, com mais empregos e melhor qualidade de vida.
“Queremos trabalhar de mãos dadas com nossos parceiros da América Latina, e isso será possível se conseguirmos concluir o acordo entre a UE e o Mercosul”, disse ela, ao lado de Lula, depois de se encontrarem antes da abertura da reunião de cúpula.
No entender do presidente, a defesa de valores ambientais, compartilhada por todos, não pode ser desculpa para o protecionismo. Além disso, ele acrescentou que o poder de compra do Estado é uma ferramenta essencial para os investimentos em saúde, educação e inovação. Sua manutenção, portanto, é condição para a industrialização verde que todos querem levar adiante.
“Proteger a Amazônia é uma obrigação. Vamos eliminar o desmatamento até 2030. Mas a floresta tropical não pode ser vista apenas como um santuário ecológico”, frisou.
Segundo Lula, o desenvolvimento sustentável possui três dimensões inseparáveis: a econômica, a social e a ambiental. “O mundo precisa se preocupar com o direito de viver bem dos habitantes da Amazônia. É com esse objetivo que sediaremos, em menos de um mês, a Cúpula de Países Amazônicos, em Belém, no coração da floresta”, destacou.
As ameaças de punição aos países do Mercosul em caso de desmatamento foram lideradas, sobretudo, pela França, que teme a competição do agronegócio brasileiro.
A presidente da CE destacou que a presença de Lula na reunião de cúpula tem uma dimensão histórica. “Dou-lhe as boas-vindas e saúdo o ressurgimento do Brasil como grande ator no cenário global. Isso vem em boa hora e já tem um impacto positivo para a parceria estratégica entre as duas regiões”, frisou.
Ela ressaltou, ainda, que a primeira reunião entre os representantes da UE e da América Latina, depois de oito anos, ganha um peso especial. “O mundo, sem dúvida, mudou muito nesse período. Passamos por uma pandemia global, temos uma grande guerra em território europeu e enfrentamos um desafio monumental com as mudanças climáticas. Por isso, precisamos dos nossos amigos próximos do nosso lado nesta época de tantas incertezas”, acrescentou.
“Queremos trabalhar de mãos dadas com vocês para lidarmos com os grandes desafios do nosso tempo e discutir como conectar mais os nossos povos e as nossas empresas, reduzir os riscos, reforçar e ampliar as cadeias de abastecimento, fortalecer as economias, reduzir as desigualdades sociais e dar benefícios a todos. Tudo isso será possível se conseguirmos concluir o acordo UE-Mercosul”, assinalou Von der Leyen.
Com informações Correio Brazilense