Pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes reagiu, quinta-feira (31/3), aos movimentos de João Doria (PSDB) e de Sergio Moro (União Brasil). O tucano chegou a anunciar que ia permanecer no cargo de governador de São Paulo, o que inviabilizaria uma eventual candidatura presidencial, mas recuou, e o ex-ministro mudou de partido, desistindo da corrida pelo Planalto para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. Em postagem nas redes sociais, o pedetista ressaltou: “Muitos vão ceder, mas não serei eu”.
Ciro Gomes tem se colocado como alternativa à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não está envolvido nas conversas em torno da aglutinação de partidos do centro para lançar candidatura única ao Palácio do Planalto.
Para Felipe d’Avila, pré-candidato do Novo à Presidência, com a renúncia de Moro e a candidatura de Doria, “a terceira via ainda terá de ser depurada antes de ser unida”. “A alta rejeição era um problema para o Moro e é um problema para o Doria”, afirmou D’Avila. “A rejeição impõe um limite ao crescimento do candidato. E eles enfrentam a pressão dos pré-candidatos a deputado federal para abrir mão de suas candidaturas em razão dos recursos disponíveis do fundo eleitoral.”
Na avaliação do professor de ciência política Valdir Pucci, Doria não planejou abandonar a candidatura, como foi dado como certo antes do evento, mas, sim, fez uma jogada política para atrair holofotes e “sair de uma posição defensiva”. Assim, faz com que o PSDB, de fato, assuma a pré-candidatura dele. “Doria está muito pressionado para abandonar a corrida ao Planalto e encontrou uma maneira de virar os olhos para sua candidatura à Presidência. Principalmente, tenta sair do canto do ringue da disputa política”, afirmou. “Isso não quer dizer que a candidatura está consolidada ou que vai virar o jogo na próxima pesquisa eleitoral, mas foi uma jogada importante do presidenciável na tentativa de ser o assunto político no cenário brasileiro em um dia que teve a troca dos ministros do governo e a saída de (Sergio) Moro do Podemos para o União Brasil.”
O cientista político André Rosa também acredita que o movimento foi um “tumulto programado” e que o pré-candidato sai mais forte. “Ele causou muita colisão para ser escolhido como candidato e, antes disso, concorrendo ao governo de São Paulo. Doria está um pouco isolado, mesmo tendo vencido as prévias. Com essa manobra, o nome dele entrou na pauta nacional”, avaliou.
Pré-candidato ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos) avaliou que a crise no PSDB envolvendo Doria e a disputa presidencial mostra um “exaurimento” do partido. “Claramente, há um vácuo. Há uma desorganização, um desentendimento e mostra muito do que aconteceu com o PSDB nos últimos anos em São Paulo”, afirmou o agora ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro.