O presidente Jair Bolsonaro (PL) relatou ter sido ignorado duas vezes pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em reunião que tiveram na semana passada para entrega do convite para cerimônia de troca no comando do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“Apenas o Fachin falou naquele momento. Eu dirigi a palavra duas vezes ao ministro Alexandre. Ele não respondeu. Quando saíram dali foram ao Senado encontrar o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e ali decidiram, inclusive, que a CPI das Fake News deveria voltar a funcionar”, afirmou o presidente nesta quarta-feira (16) à Jovem Pan.
Na entrevista, Bolsonaro disse ainda que, “por coincidência”, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas estavam em seu gabinete no momento da reunião com os ministros do Supremo.
Como o jornal Folha de S.Paulo havia mostrado, o encontro foi relâmpago e protocolar. A cúpula das Forças Armadas não era esperada pelos ministros.
Esta foi a primeira vez que se menciona o fato de o presidente ter sido supostamente ignorado.
A declaração do presidente ocorreu da Rússia, onde teve mais cedo encontro com o chefe do Executivo Vladimir Putin.
Na entrevista, Bolsonaro voltou ao tom belicoso que usava contra os ministros do STF à época dos protestos de raiz golpista de 7 de setembro.
Entraram na mira do presidente nesta noite três ministros: Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, todos na cúpula do TSE em 2022.
O mandatário disse que eles têm “perseguição claríssima” contra ele, e que o objetivo é trazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta.
Fachin assumirá no próximo dia 22 a presidência de Barroso, e depois passará o comando da corte para Moraes, relator de inquéritos que têm o presidente como alvo.
Questionado se ele havia sentido hostilidade da parte de Moraes no encontro do Planalto, Bolsonaro não respondeu diretamente, mas se queixou de seu ajudante de ordens (AJO), coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ter se tornado alvo do inquérito que apura vazamento de informações sigilosas sobre suposto ataque hacker às urnas eletrônicas.
A quebra de sigilo foi autorizada em 31 de janeiro, a pedido da Polícia Federal (PF).
O presidente disse que a quebra de sigilo do seu AJO foi para ter “acesso às informações” a que ele tem. Cid é um dos quatro ajudantes de ordem de Bolsonaro. Além de gozar da sua extrema confiança, passam 24 horas por dia ao seu lado.
“Entendo que a quebra de sigilo do meu ajudante de ordens por parte do sr. Alexandre de Moraes foi para ter acesso às informações que eu tenho”, disse.
“Agora, apesar de não achar nada que possa comprometer meu mandato, as trocas de mensagens confidenciais entre eu e AJO para tratar de assuntos internos do Brasil, de estatais, agendas com políticos, de contatos com alguns chefes de estado que a gente mantém contato, é lamentável que isso esteja na mão dele. Usando, no meu entender, subterfúgio para chegar a minha pessoa”, completou.
No começo de fevereiro, a Folha de S.Paulo mostrou que a Polícia Federal encontrou, durante a investigação do vazamento do inquérito sobre ataque hacker ao TSE, indícios da atuação de Cid em outros episódios de disseminação de desinformação.
Ele foi um dos indiciados pela delegada Denisse Ribeiro do vazamento da apuração utilizada por Bolsonaro em uma transmissão de 4 de agosto de 2021, em que ele contestou a segurança do sistema eleitoral e levantou suspeita de fraude nas eleições de 2018.
A PF afirma que informações coletadas na quebra de sigilo telemático do ajudante de ordens de Bolsonaro também indicam sua participação na live de 21 de outubro em que Bolsonaro fez uma falsa associação entre a vacinação contra a Covid e o desenvolvimento da Aids.
Médicos, no entanto, afirmam que a associação entre o imunizante contra o coronavírus e a transmissão do HIV, o vírus da Aids, é falsa e inexistente.